Os meninos Nadir e Ahmed em Gaza - Reprodução
Até o verão passado, Nadir Mohammed Saleh e Ahmed Fayiz Abed Rabo eram, para todos os efeitos, meninas. Eles usavam véu, frequentavam uma escola exclusiva para meninas e respondiam pelos nomes de Navin e Ola. Ambos nasceram com um defeito congênito raro chamado Pseudo-hermafroditismo masculino. Uma deficiência do hormônio 17-B-desidrogenase (17-B-HSD) durante a gravidez deixou seus órgãos reprodutivos masculinos deformados e inclusos em seus abdomens.
Ao nascer, os médicos os identificaram como meninas - porque pareciam ter genitália feminina. Como resultado, ambos passaram os primeiros 16 anos de suas vidas se vestindo e agindo como garotas. Assim que atingiram a puberdade, no entanto, seus corpos começaram a produzir testosterona. Surgiram então pêlos nos rostos e outras características masculinas.
Finalmente, em 22 de junho, com o apoio de suas famílias, tanto Nadir quanto Ahmed "se transformaram" em meninos. Eles cortaram o cabelo, trocaram as roupas femininas por outras mais masculinizadas. De gel no cabelo [curto], camisa de botão e jeans, não destoam em nada de qualquer outro garoto palestino de 16 anos. Pelo menos à primeira vista.
"Meu corte de cabelo e minhas roupas fazem você pensar num menino. Mas é só aparência. No fundo, eu sou uma garota"
- disse Ahmed.
Um número elevado de nascimentos de pseudo-hermafroditas vendo sendo registrado no bairro de Jabalya, onde Nadir e Ahmed, que são primos e vizinhos, vivem. Segundo Jehad Abudaia, pediatra e urologista canadense-palestino que mora e trabalha em Gaza, cerca de 80 casos semelhantes foram diagnosticados nos últimos sete anos.
- É espantoso que tenhamos [tantos] casos desse defeito, que é muito raro em todo o mundo - disse Abudaia.
Ele atribui a alta freqüência deste defeito congênito à consangüinidade.
- Eles se casam com os primos. Este é o problema.
Na Europa Ocidental, os países mais desenvolvidos, os médicos normalmente identificam o problema e em seguida operam para corrigir distúrbios de diferenciação de sexo no nascimento. Mas em Gaza, onde o padrão de cuidados médicos é baixo, o defeito de nascença pode passar despercebido durante anos.
- Alguns deles, infelizmente, só descobrirão tardiamente, quando tiverem mais de 14 anos. A maioria descobre quando vai ao ginecologista pela primeira vez, para entender porque ainda não menstruou - explicou.
O primeiro conselho do médico para os seus pacientes com o raro transtorno é que adotem imediatamente roupas masculinas e cortem o cabelo. Só depois devem planejar a operação de mudança de sexo.
- Nadir e Ahmed fizeram tudo juntos. Se ajudaram mutuamente a passar por essa crise. Eles mudaram de escola no mesmo dia. Cortaram os cabelos no mesmo dia - disse o pai de Nadir.
Este ritual incomum foi realizado várias vezes na família dos meninos, onde a diferenciação sexual é um transtorno recorrente. O irmão de Nadir, Midyam, que hoje tem 21 anos, e seu primo Ameen, de 32 anos, também sofrem de pseudo-hermafroditismo masculino.
- Nós não sabemos bem como agir - diz Ahmed, que tem 16 anos. - É uma vida nova para nós, como se nós tivéssemos nascido de novo.
Agora, Nadir e Ahmed apelam à comunidade internacional que os ajude a mudar de sexo. A operação é cara e complicada mas, segundo eles, é o único jeito de eles poderem ter uma vida normal.
- É o único obstáculo e a fonte de todos os problemas - diz Nadir.
"Alguns deles, infelizmente, só descobrirão tardiamente, quando tiverem mais de 14 anos"
Até que a operação de mudança de sexo seja concluída, as autoridades palestinas não alteram o sexo em suas carteiras de identidade. Mais grave, no entanto, é a questão da saúde dos rapazes. Nadir e Ahmed têm frequentes problemas, como infecções renais, devido a complicações decorrentes da desfiguração de sua genitália.
- Isto é uma questão 100% humanitária - diz o pai de Nadir.
Fonte: O Globo
Até o verão passado, Nadir Mohammed Saleh e Ahmed Fayiz Abed Rabo eram, para todos os efeitos, meninas. Eles usavam véu, frequentavam uma escola exclusiva para meninas e respondiam pelos nomes de Navin e Ola. Ambos nasceram com um defeito congênito raro chamado Pseudo-hermafroditismo masculino. Uma deficiência do hormônio 17-B-desidrogenase (17-B-HSD) durante a gravidez deixou seus órgãos reprodutivos masculinos deformados e inclusos em seus abdomens.
Ao nascer, os médicos os identificaram como meninas - porque pareciam ter genitália feminina. Como resultado, ambos passaram os primeiros 16 anos de suas vidas se vestindo e agindo como garotas. Assim que atingiram a puberdade, no entanto, seus corpos começaram a produzir testosterona. Surgiram então pêlos nos rostos e outras características masculinas.
Até o verão passado, Ahmed era Ola - Reprodução
- Por causa dos pelos que começaram a surgir no rosto, ficou difícil para eles saírem de casa, irem à escola [de meninas]. Era psicologicamente muito estressante - disse o pai de Nadir, Mohammed Sadih Ahmed Saleh.Finalmente, em 22 de junho, com o apoio de suas famílias, tanto Nadir quanto Ahmed "se transformaram" em meninos. Eles cortaram o cabelo, trocaram as roupas femininas por outras mais masculinizadas. De gel no cabelo [curto], camisa de botão e jeans, não destoam em nada de qualquer outro garoto palestino de 16 anos. Pelo menos à primeira vista.
"Meu corte de cabelo e minhas roupas fazem você pensar num menino. Mas é só aparência. No fundo, eu sou uma garota"
- disse Ahmed.
- É espantoso que tenhamos [tantos] casos desse defeito, que é muito raro em todo o mundo - disse Abudaia.
Ele atribui a alta freqüência deste defeito congênito à consangüinidade.
- Eles se casam com os primos. Este é o problema.
Na Europa Ocidental, os países mais desenvolvidos, os médicos normalmente identificam o problema e em seguida operam para corrigir distúrbios de diferenciação de sexo no nascimento. Mas em Gaza, onde o padrão de cuidados médicos é baixo, o defeito de nascença pode passar despercebido durante anos.
- Alguns deles, infelizmente, só descobrirão tardiamente, quando tiverem mais de 14 anos. A maioria descobre quando vai ao ginecologista pela primeira vez, para entender porque ainda não menstruou - explicou.
O primeiro conselho do médico para os seus pacientes com o raro transtorno é que adotem imediatamente roupas masculinas e cortem o cabelo. Só depois devem planejar a operação de mudança de sexo.
"Nós não sabemos bem como agir. É uma vida nova para nós, como se nós tivéssemos nascido de novo"
- Nadir e Ahmed fizeram tudo juntos. Se ajudaram mutuamente a passar por essa crise. Eles mudaram de escola no mesmo dia. Cortaram os cabelos no mesmo dia - disse o pai de Nadir.
Este ritual incomum foi realizado várias vezes na família dos meninos, onde a diferenciação sexual é um transtorno recorrente. O irmão de Nadir, Midyam, que hoje tem 21 anos, e seu primo Ameen, de 32 anos, também sofrem de pseudo-hermafroditismo masculino.
- Nós não sabemos bem como agir - diz Ahmed, que tem 16 anos. - É uma vida nova para nós, como se nós tivéssemos nascido de novo.
Agora, Nadir e Ahmed apelam à comunidade internacional que os ajude a mudar de sexo. A operação é cara e complicada mas, segundo eles, é o único jeito de eles poderem ter uma vida normal.
- É o único obstáculo e a fonte de todos os problemas - diz Nadir.
"Alguns deles, infelizmente, só descobrirão tardiamente, quando tiverem mais de 14 anos"
Até que a operação de mudança de sexo seja concluída, as autoridades palestinas não alteram o sexo em suas carteiras de identidade. Mais grave, no entanto, é a questão da saúde dos rapazes. Nadir e Ahmed têm frequentes problemas, como infecções renais, devido a complicações decorrentes da desfiguração de sua genitália.
- Isto é uma questão 100% humanitária - diz o pai de Nadir.
Fonte: O Globo